Rafael
Campos
Falta-se
obras como esta no mercado editorial cristão nacional! Embora traduzido desde
2011, parece ainda não ter tido grande repercussão no Brasil. O autor do livro
é teólogo reformado com 2 PhDs, autor de mais de 70 livros, professor de
Psicologia, Filosofia e Teologia, e também pastor presbiteriano ordenado, o que
o autoriza a discutir de maneira profunda e sensata sobre o sexo na bíblia.
Sexo na Bíblia
é um tema amplo: pode-se discutir acerca de pedofilia, adultério, incesto,
bestialidade, homossexualidade... E é o que Harold faz. Com quase toda certeza
este livro será tido como “heresia” (palavra doce na boca de fundamentalistas),
pois é ousado: descontrói muitas interpretações “clássicas” de várias passagens
das escrituras e nos oferece um novo horizonte para se pensar o texto. A partir
de argumentos muito persuasivos e logicamente sustentáveis outras visões que o
texto sagrado suporta são trazidas à tona.
Harold quer
outra leitura que não a do sexo como pecado e trilhar fora das rotas canônicas
oficiais não é tarefa rasa. O pensamento ocidental cristão moralizado
sexualmente a partir de Agostinho e São Jerônimo, trouxe um catastrófico erro
de hermenêutica das escrituras acerca do sexo e da sexualidade. O autor deseja
o alvorecer de outra leitura, conforme a bíblia, como um todo, conforme a nossa
vida, experiência real que também revela verdades.
Fundamentalistas
não vão gostar da obra: a leitura é dinâmica e ameaçadora. Numa sociedade
patriarcal desde os tempos de Abraão, algumas afirmações soam estranhas: Deus
deseja se comunicar conosco de alguma forma comparável à forma como nós
desejamos ao outro sexualmente (p.59), pois fomos criados à sua imagem, cheio
de amor e sexo! “Deus é nosso pai e nossa mãe” (p. 64).
Assustaria
dizer que o padrão bíblico tanto velho, quanto novo testamentário é a
poligamia? “A Bíblia de forma geral assumiu um contexto social no qual o
casamento polígamo era a norma” (p.15). Segundo Ellens, a poligamia era benéfica
e desejável para uma sociedade onde ela visava à proteção das mulheres da
marginalidade, abandono, pobreza e prostituição. Era uma exigência da ordem
social.
A temática da
homossexualidade, em alta nos dias atuais, é discutida pormenorizadamente, e
conclui-se que do ponto de vista da antiga aliança é impossível condenar a
prática homossexual, pois os textos são altamente contextuais e não
generalizações moralizantes e nem proibições atemporais. Do ponto de vista do
novo testamento, as afirmações paulinas sobre o assunto também não seriam
válida para condenar a prática. Dentre outros argumentos, Paulo não tinha
conhecimento sobre a orientação homossexual de nascença, oferecido pelas
ciências e saberes modernos. Embora eu não concorde com as colocações do autor
no âmbito novo testamentário, é bastante difícil levantar contra argumentos. De qualquer maneira, isso soa como pimenta nos olhos de uma certa ala dita cristã (fundamentalista?).
Indico a
leitura, pois o conhecimento revelado na obra porá em xeque interpretações
errôneas, revolucionará nosso modo de ler a bíblia, abrirá novas pontes de
diálogo e discussão sobre a temática, além do que nos proporcionará a
fantástica aventura de ler as escrituras fora do cubículo oferecido por teólogos
que, de modo geral, parecem ter medo do sexo.
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